Por aí…

por cesargatto

porai

Pegou a carteira e o mp3 e saiu de casa por aí, sem destino. O celular deixou para trás. Deu sinal para o primeiro ônibus que passou, que parou e ele entrou. Não havia lugar para sentar, então ficou em pé enquanto escutava Raul e observava o motorista cumprimentar o outro que vinha no sentido contrário.
Todos estavam vidrados olhando para seus respectivos celulares, menos o motorista. E ele, claro.
Ninguém estava triste. Nem feliz. Eram apenas mundos particulares se deslocando para um destino, menos ele porque ele não tinha um destino. Ou tinha? Afinal, ele vai parar em algum lugar e esse será seu destino. Então, digamos que ele não tinha um destino premeditado, mas tinha um destino que ele não sabia qual seria.
Observava atentamente as casas e os comércios se aproximando e desaparecendo conforme o andar do ônibus. Viu um rapaz distraído passeando com seu cão e um outro que viera brincar ao seu encontro. Havia um ser humano deitado na calçada, mas o que chamou a atenção das pessoas, foi um carro conversível que passou do lado.
Queria saber qual o sentido de uma vida sem sentido. “Será que quando batermos as botas, saberemos?” – indagou a si mesmo esperando uma resposta que não veio.
Deu sinal porque resolveu descer. Caminhou até uma praça e avistou um banco vazio. Deitou-se nele. Estava na sombra, mas conseguia ver passar os raios de sol por entre as frestas dos galhos e folhas das árvores. Escutava uma música melancólica e definiu esse contexto com o nome de felicidade. “Mas felicidade é passageira. Como tudo na vida. A vida é apenas um piscar de olhos perante a imensidão do tempo. Tempo esse que vem desde os  primórdios, do pré-cambriano ao cenozóico, alguma coisa assim. E ainda tem as galáxias, as estrelas, o universo. Deus que criou tudo isso? É muita informação para um cérebro só, apesar de ter milhões de neurônios. Mas mesmo assim, já esqueci o que pensei. E vivo esquecendo, a gente absorve e logo esquece com o tempo, tempo esse que vem desde os primórdios…” – refletiu.
Depois de uma hora de uma discussão silenciosa entre ele e ele mesmo, voltou para a casa sem saber qual o sentido da vida. Se é que tem sentido.