Paranoia

por cesargatto

baseado

Revirou a geladeira e os armários da cozinha e nada havia. Olhou para a carteira e havia alguns trocados, o suficiente para uma refeição. Estava há um bom tempo sem se alimentar e precisava preencher este vazio, embora sem estar com muita fome. Biotônico era coisa do passado, então preferiu optar por uma solução atual e natural para abrir o apetite.
Encaminhou-se até seu quarto e nos fundos daquela gaveta, retirou um estojo que envolvia alguns apetrechos e o principal: a erva proibida.
Dichavou e despejou o “orégano” na seda, nivelou, enrolou, passou a língua e concluiu com todo cuidado para não desperdiçar. O baseado estava pronto, assim como ele, e então se encaminhou até seu destino: aquela movimentada praça de alimentação.
Optou por um caminho um tanto deserto sob o céu já escurecendo. Olhou para os lados e, sem hesitar, acendeu seu cigarro de artista. O cheiro parecia não incomodar os poucos pedestres que por lá circulavam.
Logo à frente, avistou uma viatura circulando lentamente pela rua vindo em sua direção. Sagaz, escondeu o baseado entre seus dedos enquanto os policiais o encaravam com sangue nos olhos. Ele olhou discretamente de canto para eles e continuou caminhando enquanto a viatura se perdia de vista ao virar na esquina de trás. Fumou, então, até a última ponta e a dispensou na calçada suja.
O efeito veio à tona um pouco antes de chegar na praça de alimentação. Sentia seu cérebro latejando, fruto de uma massagem agradável proveniente de um aspirar, segurar e expelir a fumaça de uma planta, cientificamente conhecida como cannabis.
A praça de alimentação estava quase cheia de pessoas sentadas e outras circulando e de repente ele sentiu um olhar vindo de todos os rostos ao mesmo tempo, como se tivessem o julgando por ter cometido alguma barbárie, como se ele fosse o réu e a multidão, o juiz. Os olhares o espremiam para dentro de um beco sem saída envolvido numa sensação de ataque de pânico em meio ao barulho ensurdecedor do conversar das pessoas que por lá presenciavam sem saberem o que estava acontecendo.
Ele sabia que tudo isso era fruto de sua imaginação sob efeito de um entorpecente, pois passara por isso outras vezes que havia fumado.
Havia uma cadeira vazia, então ele se sentou e esperou se acalmar.
Passado alguns minutos, ele se acalmou, se levantou, foi até a lanchonete e fez o seu pedido:
– Me vê uma coxinha e uma coca!